Palavras chave: neuroplasticidade, neurorreligação, psiquiatria, psicoterapia, neuropsicologia.
Neste
artigo eu comento um pequeno trecho do livro “Psicodrama e
Neurociência” (1), o qual considerei de grande importância para
reflexões e também especulações sobre o meu termo Neurorreligação.
O
livro foi organizado pelos cientistas Georges Salim Khouri, Edward Hug e
Heloisa Junqueira Fleury e possui muitas referências à psicoterapia,
psiquiatria e neuroplasticidade.
Também
cito um artigo das psicólogas Maria Alice Fontes e Selma Boer, “O
efeito da psicoterapia no cérebro”, (2) da Clínica Plenamente em São
Paulo, SP, Brasil.
Nas páginas 24 e 25 de “Psicodrama e Neurociência” encontramos:
“ ...Há muitos estudos de pacientes psiquiátricos, antes e depois da
terapia, baseados nos efeitos da farmacoterapia e, mais recentemente,
nos efeitos da psicoterapia; há também alguns que comparam os efeitos de
ambos os tipos de terapia.
Os resultados destes estudos são muito interessantes. Todos os três tipos mostram que ambas as terapias:
- reduzem a atividade e o volume das estruturas patologicamente ativadas (como a amígdala no PTSD); e
- aumentam a atividade e o volume das estruturas patologicamente inibidas (como o hipocampo nos pacientes depressivos).
Mostram também que os dois tipos de terapia têm efeitos similares mas não iguais (Kay, 2004).
Infelizmente há mais hipóteses do que fatos a respeito de 'psicoterapia e neuroplasticidade'. Isso pode ser explicado. Primeiro,
não há e não pode existir um modelo para a psicoterapia no mundo animal,
uma vez que os animais não se comunicam como nós o fazemos; suas
funções superiores do cérebro não estão desenvolvidas da mesma forma que
nos humanos.
Além disso, os métodos de imagem não mostram neuroplasticidade -
mostram apenas o volume e a atividade das estruturas cerebrais, das
quais podemos tirar conclusões indiretas. E a neurogênese pode ser
objetivada apenas histologicamente, ou seja, post mortem.
Por último, mas não menos importante, a psicoterapia não é somente 'gerenciamento de sintomas': ela inclui um espectro muito maior de
mudanças relacionadas com o desenvolvimento pessoal.
Memória
Jerald Kay e Deborah Liggan construíram um modelo de memória de
psicoterapia baseado na plasticidade cerebral. A neuroplasticidade é
vista como um pré-requisito para qualquer mudança durável de
comportamento, cognição e emoções, e portanto para todos os efeitos
psicoterápicos.
Existem dois tipos principais de memória:
1. O sistema de memória explícita - recordação consciente de fatos e eventos:
- estruturas cerebrais: estruturas do lobo temporal especialmente o hipocampo, estruturas límbicas-diencefálicas;
- disponivel para evocação consciente.
2.
Sistema de memória implícita - uma conservação heterogênea de
capacidades; armazena a experiência emocional relacionada com o processo
de vinculação precoce:
- estruturas cerebrais: gânglios basais;
- não disponível para evocação consciente (Liggan, et al., 1999)... ”.
Tanto
na psicoterapia quanto na psiquiatria há mudanças no volume - tamanho -
e nas atividades de áreas cerebrais descritos nos dois primeiros
parágrafos. O cérebro não se transforma para não realizar novas funções,
não exercer atividades que antes não possuía. Sabe-se que qualquer
mudança em sua estrutura irá ter consequências no comportamento do
indivíduo.
O
terceiro parágrafo é bem elucidativo porque mesmo se tratando de duas
modalidades de trabalhos distintas, efeitos similares acontecem:
conversar com um psicoterapeuta e ingerir remédios são duas coisas bem
diferentes. Sendo o cérebro o sistema mais complexo existente, chegar a
resultados similares já é uma grande conquista, uma grande evidência, na
minha opinião, que tanto o psiquiatra quanto o psicoterapeuta
procuravam o mesmo fim.
Mesmo
os dois últimos parágrafos, antes do subcapítulo “Memória”, citando
problemas com respeito à neuroplasticidade e a psicoterapia, vemos
depois a frase “A neuroplasticidade é vista como um pré-requisito para
qualquer mudança durável de comportamento, cognição e emoções, e
portanto para todos os efeitos psicoterápicos.”
No artigo “O efeito da psicoterapia no cérebro” vemos as seguintes considerações:
“
[...] Um estudo recente com pacientes portadores de depressão (Ritchey
et al., 2011), sem o uso de medicação, apontou que a psicoterapia
promove um aumento global na ativação da córtex pré-frontal
ventromedial, e maior excitação na amígdala, núcleo caudado e hipocampo
(uma das regiões cerebrais envolvidas na expressão das emoções).
Outra
pesquisa realizada na Universidade da Califórnia mostrou, através de
estudos de neuroimagem, uma redução da atividade metabólica no núcleo
caudado, estrutura localizada no hemisfério cerebral direito, com papel
importante no sistema de aprendizado e memória em pacientes com
Transtorno Obsessivo-Compulsivo, que passaram por psicoterapia no
decorrer de 10 semanas.
No
caso de indivíduos com fobias específicas (fobia de animais, de
sangue), os estudos de neuroimagem (Porto et al., 2009) mostraram uma
diminuição da atividade em áreas límbicas e paralímbicas do cérebro
(responsáveis pelo controle emocional do comportamento, memória). Os
achados de todas essas pesquisas apontavam para uma correlação com a
melhora dos sintomas dos pacientes e mudanças na atividade cerebral ”.
Vejam
estes três últimos parágrafos de “O efeito da psicoterapia no cérebro”:
melhoras de diversos sintomas emocionais negativos através de
conversas, sessões com um psicoterapeuta, as “bases” do método do
profissional! Por isto fiz questão de grifar em negrito o final do
artigo.
Imagine
a cura de uma depressão, por exemplo, como acontece muito por aí. Não
podemos de modo algum pensar que não houve modificações em estruturas
cerebrais e na funcionalidade destas ou de outras… Uma pessoa limitada
em muitos, senão em todos os sentidos de uma vida plena em
sociabilidade, afetividade e de trabalho, tendo sida resgatada da forma
que foi, voltando a ser feliz, é uma grande evidência daquilo que
batizei como Neurorreligação!
Estímulos
externos perpetuando mudanças estruturais e/ou funcionais em regiões
cerebrais, refletindo no comportamento visível do paciente. Esta é a
essência do termo Neurorreligação.
Bibliografia:
- Fleury, H. J. ; Hug, E. ; Khouri, G. S. Psicodrama e neurociência: contribuições para a mudança terapêutica. São Paulo: Grupo Editorial Summus, 2008. p. 24-25.
- O efeito da psicoterapia no cérebro. Maria Alice Fontes e Selma Boer. Disponível em: < http://www.plenamente.com.br/artigo/163/-efeito-psicoterapia-no-cerebro-selma-boer.php#.VtXlyI4XHs1 >. Acesso em: 02/03/2016.
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