Palavras-chave: neurociência, psicologia, psicoterapia, psicofisiologia
Certa vez eu vi uma fotografia microscópica de uma quantidade anormal de neurotransmissores nas sinapses de neurônios de uma área cerebral de um rato. Essa quantidade era a de um pico quando o pequeno animal aprendeu o caminho em um labirinto para se chegar a um pedaço de queijo.
Introdução: a psicoterapia, com os seus resultados benéficos para as pessoas, produz, em termos microscópicos, modificações estruturais e funcionais em várias regiões do cérebro, que são chamadas de neuroplasticidade. A pessoa se religa ao mundo social, afetivo e de trabalho. Daí o conceito de neurorreligação.
Certa vez eu vi uma fotografia microscópica de uma quantidade anormal de neurotransmissores nas sinapses de neurônios de uma área cerebral de um rato. Essa quantidade era a de um pico quando o pequeno animal aprendeu o caminho em um labirinto para se chegar a um pedaço de queijo.
Sinto
eu não ter uma reprodução aqui e também só me lembro de ser uma
reportagem no jornal “A Folha de São Paulo” da década de 90. Mas o que
ficou de importante para mim fora a ligação de prazo indeterminado entre
os neurônios, ou seja, o rato dificilmente esqueceria a trajetória de
sua alimentação.
Dei este exemplo simples como um caráter introdutório neste artigo. Voltarei a ele mais abaixo.
A
psicoterapia é uma forma de tratamento de distúrbios e doenças mentais
havendo uma interação entre um profissional e o paciente, onde, por
intermédio de conversas entre os dois, o paciente acaba conhecendo
melhor os seus problemas, e, por isto, aprender a resolvê-los. Nesta
interação o paciente também aprende a melhor se adaptar e agir no meio
ambiente social em que vive, melhorando a própria qualidade de vida e a
inteligência emocional como um todo. Como efeitos de longo prazo, novas
capacidades e competências são adquiridas em nível da personalidade,
aumento da autoestima, um posicionamento mais eficaz perante a vida.
A
Psicologia é a Ciência de onde a psicoterapia se origina, sendo o
surgimento da primeira remontando a Aristóteles (384 - 322 a.C.) quando
ele escreveu um “manual” de nome “Acerca da Alma” e, em 1590, o filósofo
alemão Rodolfo Goclenio criou o termo psicologia usado até hoje.
No
início do século XIX surgiram aqui no ocidente as psicoterapias com
influências de escolas filosóficas na tentativa de modificar, remover,
tratar sintomas de natureza emocional e favorecer o desenvolvimento da
personalidade.
Hoje
os cientistas dispõe de aparelhos sofisticados para “enxergarem”,
através das neuroimagens, uma palavra cada vez mais comum na medicina, o
funcionamento e/ou alterações dos interiores dos nossos cérebros.
Utilizam, por exemplo, a tomografia por emissão de fóton único (SPECT), a
tomografia por emissão de pósitrons (PET), a ressonância magnética
funcional (fMRI) e a ressonância magnética espectroscópica (MRS). Assim
desvendam o que acontece com a estrutura neural em diversas regiões dos
cérebros de pacientes submetidos a essas adiantadas e refinadas técnicas
científicas.
A
fotografia que eu vi dos neurotransmissores do rato provavelmente foi
uma neuroimagem. Para um leitor desatento aquilo fora uma brincadeira
satisfazendo a curiosidade de alguns, mas, para o pequeno animal, era a
própria sobrevivência que estava em jogo. Ele iria gastar o tanto de
energia possível a descobrir o caminho correto.
No
excelente artigo “Psicoterapia e neurociências: um encontro frutífero e
necessário”, da Revista Brasileira de Terapias Cognitivas,¹ os autores²
relatam o seguinte: “A Neurociência tem demonstrado que um
comportamento pode ser aprendido e aperfeiçoado pela experiência, que
altera a ‘voltagem’ das sinapses na rede neural, provendo a formação de
novos circuitos neurais e novas memórias, acessíveis em ocasiões
posteriores (Kandel, Schuartz & Jessell, 2000)”.
Outro
relato diz: “Os estudos com neuroimagem […] objetivam pesquisar
alterações anatômicas especialmente relacionadas à volumetria de
estruturas encefálicas e funcionais para investigarem alterações na
dinâmica do fluxo sanguíneo encefálico, aumento ou decréscimo de
ativação nas estruturas e circuitos neurais (Peres & Nasello,
2005)”.
Aqui
entra o ponto em questão deste texto: conversas entre um paciente e um
profissional alterando estruturas cerebrais e consequentemente
comportamentos. Estou simplificando o raciocínio pois o tratamento poderá conter consultas a um psiquiatra, realizações de meditações, etc.
Espera-se
da psicoterapia uma melhora na qualidade de vida através de
comportamentos mais adaptados, pensamentos mais racionais e uma melhora
na inteligência emocional como um todo. Isto é uma religação ao mundo no
sentido de deixarem as pessoas mais felizes. E o que acontece no
cérebro? Modificações estruturais e/ou funcionais.
No
meu primeiro artigo “A Base Material dos Sentimentos”,³ eu digo de uma
possível revolução filosófica-científica, em que o conceito de alma ou
espírito poderá sofrer grandes modificações pois o que a Neurociência e
ciências afins descobrem, nos mostram um cérebro em que nada funciona
dependendo de uma alma. Tudo indica que o nosso órgão mais complexo é
autossuficiente, não precisando de algo imaterial a realizar todas suas
funções.
Na
verdade todas as terapias, e são muitas por aí, são neurorreligações a
proporcionarem tudo de positivo que as pessoas buscam e que citei neste
texto. Umas mais eficazes para certas pessoas, outras não, umas mais
caras, outras menos, etc.
Notas:
1 - Revista Brasileira de Terapias Cognitivas -
Versão impressa ISSN 1808-5687
Rev. bras. ter. cogn. - v.1 n.2 - Rio de Janeiro - dez. 2005.
Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872005000200003>. Acesso em: 03/05/2017
2 - Julio Fernando Prieto Peres - Doutorando em Neurociência e Comportamento. Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo
e
Antonia Gladys Nasello
- Doutorado pela Universidade Nacional de Córdoba, Argentina e pela
Universidade de São Paulo. Professora Adjunta. Departamento de Ciências
Fisiológicas. Faculdade de Ciências da Medicina da Santa Casa de São
Paulo
Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872005000200003>. Acesso em: 03/05/2017
3 - A Base Material dos Sentimentos. Revista Cérebro & Mente. (www.cerebromente.org.br). Argos Arruda Pinto. Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n12/opiniao/sentimentos.html>. Acesso em: 03/05/2017
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