Palavras chave: neurociência, neuroplasticidade, neurorreligação, psicologia, terapia, psicoterapia
“Devemos nos lembrar que todas as nossas ideias provisórias em psicologia partem da premissa de que um dia elas estarão baseadas numa subestrutura orgânica.”
(Sigmund Freud, re: projeto de uma psicologia biológica).
“O cérebro não é um órgão estático; ele muda continuamente em resposta aos desafios do meio ambiente.”
(L. Cozolino).
“A maior parte das psicoterapias altera as estruturas cerebrais da mesma forma que os remédios para distúrbios da mente. Não dá mais para alegar que terapia é só conversa jogada fora.”
(Norman Doidge).
Em meu artigo “Neurorreligação” (1) eu digo que ela é o benefício positivo alcançado pelas pessoas no conjunto de quatro atividades, ou, no conjunto de várias delas e mesmo de uma só: práticas religiosas, terapias, psiquiatria e meditações. Benefício aqui se refere a algo amplo: a ressocialização da pessoa, amenização de problemas emocionais / mentais, etc. E para compreender esse processo que não é nada fácil, entrarei em um conceito já bem estudado pela neurociência: a neuroplasticidade. (2)
Ela é um termo muito estudado hoje em dia e diz respeito às mudanças estruturais e/ou funcionais do cérebro com as experiências pessoais de cada um em suas vidas. É uma modificação neurológica definida por Landeira e Cruz (2007) (3) como a “capacidade vital de o cérebro reorganizar suas vias com base em novas experiências.”
Diz o psiquiatra e psicoterapeuta Roberto Faustino: “podemos supor que quando uma psicoterapia eficaz promoveu redução dos sintomas ou mudanças positivas na vida do cliente, paralelamente, seu cérebro sofreu alguma alteração.” (4)
O meu conceito de neurorreligação surgiu justamente desse fato: modificações neurológicas em nível micro produzindo alterações do comportamento visível, ou seja, no nível macro. A pessoa se religa à sua vida normal de trabalho, social, afetiva, etc.
A doutora Maria Alice Fontes, diretora de uma importante clínica de psicologia, neuropsicologia e psicopedagogia, a Plenamente, em São Paulo, SP, escreveu um importante artigo no próprio site da clínica, descrevendo descobertas e estudos recentes sobre a neuroplasticidade na psicoterapia. É o artigo “Como a psicoterapia age no cérebro?” (5)
Logo no primeiro parágrafo ela diz: “Recentes estudos têm mostrado que as alterações de comportamento provocadas pela psicoterapia são consequências da restauração de rotas neurais, cujo funcionamento estava alterado.” Mais ainda, citando um estudo de Barsaglini et al., 2013, ela descreve:
“Neste estudo, os resultados da literatura foram separados considerando cada transtorno psiquiátrico: transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do pânico, transtorno depressivo maior unipolar, transtorno de estresse pós-traumático, fobia específica e esquizofrenia, e discutidos de acordo com as seguintes questões: (1) se as alterações neurobiológicos após psicoterapia ocorreram em regiões que apresentavam alterações neurofuncionais significativas antes do tratamento, (2) se estas mudanças neurobiológicas eram semelhantes ou diferentes, as observadas após o tratamento farmacológico, e (3) se as alterações neurobiológicas poderiam ser usadas para monitorar o andamento e o resultado da psicoterapia.
Resumidamente, os resultados apontam que: (1) dependendo do transtorno sob investigação, os resultados da psicoterapia no cérebro indicam: a) normalização de padrões de atividade cerebrais que estavam alteradas; b) o recrutamento de outras áreas que não apresentavam ativação alterada antes do tratamento e c) de uma combinação entre os dois. (2) Os efeitos da psicoterapia sobre a função cerebral são comparáveis aos da medicação para alguns, mas não todos os transtornos. (3) Não há evidências de que alterações neurobiológicas estão associadas com o desenvolvimento e com os resultados da psicoterapia.”
E no final do artigo ela se mostra prudente: “Desta forma, entende-se que as terapias psicológicas podem modificar os pensamentos, sentimentos e comportamentos dos indivíduos com transtornos mentais, mas os mecanismos cerebrais subjacentes, embora possam ser interpretados como uma normalização da atividade do cérebro, ainda não estão completamente claros e precisam de maiores investigações.”
A neurociência é uma ciência nova, onde, com instrumentos eletrônicos avançados, se começou recentemente a rastrear modificações neurológicas após terapias, meditações e práticas religiosas.
Na minha opinião, considerando o cérebro como uma máquina biológica e que não existe nada de sobrenatural ou transcendental em sua funcionalidade, a neurorreligação é resultado da neuroplasticidade.
Bibliografia:
1 - “Neurorreligação”. Argos Arruda Pinto. Disponível em: http://neurorreligacao.blogspot.com.br/2016/10/neurorreligacao.html . Acesso em: 09/05/2017.
2 - “A importância da neurociência para a psicologia”. Rebeca Machado. Disponível em: http://blog.sbnec.org.br/2009/05/ensaio-a-importancia-da-neurociencia-para-a-psicologia/. Acesso em: 09/05/2017.
3 - “A importância da neurociência para a psicologia”. Rebeca Machado. Disponível em: http://blog.sbnec.org.br/2009/05/ensaio-a-importancia-da-neurociencia-para-a-psicologia/. Acesso em: 09/05/2017.
4 - “Contribuições da neurociência para a psicoterapia” - Prof. Roberto Faustino - Prof. adjunto e pesquisador na UFPE. Disponível em:
http://robertofaustino.com.br/web/wp-content/uploads/2013/07/Contribuicoes-da-neurociencia-para-a-psicoterapia.pdf . (p. 07). Acesso em: 09/05/2017.
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