Palavras-chave: neurociência, neuroplasticidade, consciência.
Em meu artigo “Psicoterapias, neuroplasticidade e alterações na consciência”, (1) eu comento o fato das depressões e outros desequilíbrios emocionais modificarem a consciência. Isto é chamado de relação de baixo para cima, ou seja, do cérebro para a consciência, e também existe a relação de cima para baixo: a consciência modificando estruturas cerebrais.
Esse segundo fenômeno é muito comum no dia a dia de muitas pessoas mas não comentado como acima. Citarei um exemplo, sem a necessidade de ser completo, que faz parte da bibliografia (2) em que me baseio este artigo:
“Na sexta-feira, às 06:30 da tarde, no dia 4 de agosto de 2006, aos 66 anos, sentado na mesa, segurando a cabeça com a mão direita, I.K. de repente caiu com o rosto na mesa. Ele não conseguiu mover a perna e o braço direito, nem poderia pedir ajuda, pois sua habilidade de falar foi perdida. Mais tarde, descobriu-se que sua artéria carótida esquerda foi obliterada e parou de fornecer sangue e oxigênio à metade esquerda de seu cérebro. I.K. experimentou um acidente vascular cerebral isquêmico desastroso: em poucos minutos, quase uma quarta parte do cérebro foi destruída, com as consequências dramáticas de uma paralisia do lado direito de seu corpo (hemiplegia), perda de capacidade de falar e compreensão (afasia) e incapacidade de escrever (agraphia).
Nesta situação difícil, I.K. ainda podia ouvir os médicos ao seu redor que discutiam sua situação. Naquela época os neurologistas podiam ver que I.K. sofreu graves danos estruturais e teve pouca esperança para sua recuperação. Mas, um ano depois, tornou-se evidente que I.K. tinha experimentado uma reabilitação inesperada. Quatro anos após o incidente, I.K. já podia tocar piano com a mão esquerda, escrever livros e poemas, pintar e exibir suas pinturas ao público.
Nesta situação difícil, I.K. ainda podia ouvir os médicos ao seu redor que discutiam sua situação. Naquela época os neurologistas podiam ver que I.K. sofreu graves danos estruturais e teve pouca esperança para sua recuperação. Mas, um ano depois, tornou-se evidente que I.K. tinha experimentado uma reabilitação inesperada. Quatro anos após o incidente, I.K. já podia tocar piano com a mão esquerda, escrever livros e poemas, pintar e exibir suas pinturas ao público.
O que aconteceu? Uma explicação potencial tinha a ver com o fato de que I.K. tinha um hemisfério direito excepcionalmente desenvolvido (o hemisfério intacto), que tinha sido aprimorado por anos por tocar piano e pintar em seu tempo livre. Não há dúvida de que essas atividades têm desempenhado um papel importante em sua recuperação surpreendente. Mas há uma segunda explicação adicional. Em um de seus poemas escrito após o incidente, I.K. apresentou sua decisão de realizar uma nova forma de vida: "Quero falar palavras de sabedoria, mas sei que minha boca vai me trair quando falo… Então, o que me resta? Tenho vontade de viver, não como eu quero, mas como posso". Essa decisão foi tomada apesar dos sintomas dramáticos que incluíram dificuldades na escrita, repetição de palavras, criação de novas palavras e muito mais. Foi uma decisão consciente que representou um ato de vontade e pode ser considerada a fonte de sua surpreendente reabilitação.
Vinte e dois dias após o acidente vascular cerebral ele criou a seguinte imagem, que mostra o polegar paralisado do braço direito parcialmente coberto por figuras de cabeças e uma parte vazia. A imagem demonstra sua luta para entender seu novo estado. Dois anos depois ele pintou uma cidade em uma metade de tabuleiro de xadrez, com as casas em cima das casas (posições das peças) do xadrez, intitulada por ele como "Tabuleiro de xadrez", imagem de sua reabilitação.
Vale a pena notar que foram as capacidades linguísticas, de comunicação e de se expressar de I.K. que se recuperaram, e, menos ainda, suas habilidades motoras. O segredo desta transformação maravilhosa foi o seu poder de vontade e firme decisão de viver da melhor maneira possível, mesmo que severamente limitado. Um envolvimento de um efeito descendente da consciência sobre a neuroplasticidade de seu cérebro pode explicar a reabilitação de I.K., ao contrário de muitos outros em seu estado.”
Vinte e dois dias após o acidente vascular cerebral ele criou a seguinte imagem, que mostra o polegar paralisado do braço direito parcialmente coberto por figuras de cabeças e uma parte vazia. A imagem demonstra sua luta para entender seu novo estado. Dois anos depois ele pintou uma cidade em uma metade de tabuleiro de xadrez, com as casas em cima das casas (posições das peças) do xadrez, intitulada por ele como "Tabuleiro de xadrez", imagem de sua reabilitação.
Vale a pena notar que foram as capacidades linguísticas, de comunicação e de se expressar de I.K. que se recuperaram, e, menos ainda, suas habilidades motoras. O segredo desta transformação maravilhosa foi o seu poder de vontade e firme decisão de viver da melhor maneira possível, mesmo que severamente limitado. Um envolvimento de um efeito descendente da consciência sobre a neuroplasticidade de seu cérebro pode explicar a reabilitação de I.K., ao contrário de muitos outros em seu estado.”
Os principais componentes da consciência são a intencionalidade (3), autoconsciência, subjetividade e a vontade.
Veja a última palavra… vontade… ligada à… força de vontade, uma de nossas expressões mais fortes, mais utilizada após adversidades onde queremos melhorar em algo, na superação de problemas, para chegarmos próximos a limites, etc. E é justamente quando no cérebro a consciência, a cognição e a memória são preservados, que podemos nos esforçar em alcançar objetivos considerados quase impossíveis para muitos. I.K. decidiu por lutar por uma vida, mesmo que restrita, mas da melhor forma que poderia encontrar. A consciência de I.K. estava presente em todos os momentos pelos quais passou desde o momento de sua decisão… consciente.
Referências Bibliográficas
1 - Argos Arruda Pinto. Psicoterapias, neuroplasticidade e alterações na consciência. 2017. Disponível em: <
http://neurorreligacao.blogspot.com.br/2017/11/psicoterapias-neuroplasticidade-e.html >. Acesso em 18/11/2017.
2 - Jean Askenasy; Joseph Lehmann. Consciousness, brain, neuroplasticity. 2013. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3706726/ >. Acesso em: 18/11/2017.
3 - Argos Arruda Pinto. A intencionalidade como um dos comportamentos mais importantes da evolução e da psicologia evolucionista. 2016. Disponível em: <
http://argosarrudapinto.blogspot.com.br/2016/12/a-intencionalidade-como-um-dos.html >. Acesso em: 18/11/2017.